Sunday 11 January 2009

CARTOLAS DE CARNE VIVA


Para sempre ocupada a emendar pedaços partidos da minha peça interna, motor da minha vida, apareces numa onda assustadora de felicidade. Porque tudo o que revolta é pavoroso, porque me assusta o oceano que trazes em ti.
Dispuseste-me nos olhos telas que gritara nunca querer ver, na penumbra de uma sala onde sons inoportunos nos confundiram. Ouvíamos rodas e motor parados entre os nossos suores, gritos e sabores. Escreveste-me Amor nos cabelos que cobriram a ansiedade por luxúria quando me roubaste de um vampiro obscuro. E a tua assustadora multidão onde queres que me perca, onde me perco por ti... O palpitar de olhos atentos aos beijos talvez apaixonados e o nosso espaço é pálido. Momentaneamente resgatada do meu mundo de palcos de monstruosidades inócuas!
A máquina, antes languidamente cristalizada, volta a habitar o frágil quotidiano. E eu espero esperanças desesperadas, receosas. Porque a velha triste canção, esmurrada em cordas de antepassados enforcados, liquefaz-se em palavras racionalmente lógicas.
Com a tua expressão prematura de ilusionista, retiras carne viva da cartola que te acompanha o coração, e a realidade é tudo o que me mostras. A tua presença insensata, como a projecção da minha revolta, alucinou as minhas necessidades. A tua índole de beleza desprovida de ornatos extrapola a tua externa existência como um halo. Obliterei o meu passado porque és aquilo que ninguém sabe fingir em mim.

Valquíria



The Doors - Spanish Caravan, live in Europe, 1968

Ao meu homem do mar

1 comment:

  1. Duvido muito que se esqueça o passado, ele simplesmente esvanece, onde retido em jardins fica como semente para germinar ao seu belo prazer. A colheita das ondas é o entrelaçar embriagado da entrega, quando feito fantasma resta o toque da insanidade para ouvir a viagem

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