Encostada ao frigorífico, ao sabor ácido/amargo amanteigado, desfizeram-se conscientes tubérculos na minha língua bifurcada de amontoados desgostos. A memória inflecte a pantera ruiva no telhado que projecta o pôr-do-sol, dedos da irmã enrugados fecham caixas de plástico no meu cérebro, animal metamorfoseando-se na caixa de mágicos horrores, a mulher de branco aos pés da cama não se casa, derrete a morte. O ventre, então à porta do cubo gelado, posiciona na mão, qual estátua estática esfíngica, arrogantemente, uma leve pêra de encarnado sanguíneo, como se fosse comum. E eu grito gritos internos, abafados no abismo da loucura enquanto dedilho a pele do pescoço indiferentemente enrugada como velhos razoáveis.
Infortúnios infantis. Corro mais de uma dezena de degraus ao encontro de alguém real que me escreva na testa a verdade, enquanto toco mais uma vez o pescoço da loucura. Depois, ao som da lua, entro na montanha russa, e antes de estreitar o onírico, vou detestando aquele mosaico axadrezado de negro, amarelo e vermelho. Este choca-se com a minha visão interna, e aí encontra o cubo que me sobrepõe o encéfalo. Milhares de milhões de imagens da velocidade em persona, indigesta, indistinguíveis como patologias nas vozes da ignorância, surgem. E tudo é estranho num jardim de flores imaginárias cujas cores se adjectivam.
Quando foi o tempo em que comeste arroz de tomate com salsichas e defecaste a moeda de cinquenta centavos? O mesmo tempo em que confundiste a realidade alucinada dos sonhos verídicos, criança.
Valquíria