Saturday 14 February 2009

FRACÇÕES



The Rape, Edgar Degas, 1869


Não discerniu a exactidão do tempo, da força. Exemplarmente, descontinuou a precisão da carne em detrimento do espectacular exemplo da finitude. Mendigou-lhe a palavra, Classifica-nos!, Não podes simplesmente negar-me, Puta! – Cospe-se. A cobra rasteja perante o linear amiudado da feminilidade da imolada, Detestável excremento! Detestável feminilidade a minha, pureza de beleza anulada – [Choro interior]. Sangue, poderoso sangue, negro, espesso e vivo sangue. Pernas balançam, tremem, limpam-no. Água orvalhada dissolve-se na pele amortecida de palidez, Impetuosos sinistros meus, meus, meus. O transgressor temeu as consequências do próprio acto perpetrado no instante passado. O livro de desgraças identificativas. Velhas escadas rangentes separam existências. A esclerótica amarelada de doença revoltou-se na órbita, a mirada desconhecida. Abominável memória.

Valquíria



Twin Peaks - Fire walk with me, David Lynch, 1992

6 comments:

  1. Bull's eye (no olho do Boi).

    A fala sobre
    o falo do
    (ab)ominável (in)ominável.


    *


    Como falar da escuridão que se espalha insidiosamente nos raios de sol em cada aurora.


    "The body is wrenched in serpentine swelling and sloughing. Sex is not the pleasure principle but the Dionysian bondage of pleasure-pain.

    So much is a matter of overcoming resistance, in the body or the beloved, that rape will always be a danger.

    Male sex is a repetition-compulsion: whatever a man writes in the commentary of his phallic projections must be rewritten again and again.

    Sexual man is the magician sawing the lady in half, yet the serpent head and tail always live and rejoin. Projection is a male curse: forever to need something or someone to make oneself complete."

    ...

    "This is the chthonian black magic with which we are infected as sexual beings; this is the daemonic identity that Christianity so inadequately defines as original sin and thinks it can cleanse of us.

    The procreativeness of chthonian nature is an obstacle to all of western metaphysics and to each man in his quest for identity against his mother. Nature is the seething excess of being."


    in Camille Paglia, "Sexual Personae"

    Também em português:

    http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=7292

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  2. Tudo é negado, nada é adquirido, tudo é completamente devorado sem aí nada existir, enquanto o interior se enlouquece com o pó da levitação

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  3. Erratum ... Degas, não será 1869?
    Quanto a qualquer tipo de comentário, seria sempre intemporal e desconexo...

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  4. Claro que sim, resultado da força do hábito trivial. Eu é que penso que o mundo teve início no século XX... E de facto, de uma perspectiva narcisista, teve.

    De resto, não comento o que não comentado foi... Embora tudo o que não tenha conexão tem sempre um lugar no meu caixão.

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  5. Ah, 0.04

    O homem é tenebrosamente magnético, detestável vítima. Nós somos a Mãe do ódio e adoramos o sangue.

    (in morbid state of mind...)

    Vai surgindo. Ainda é brilho.

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  6. Dark Violet

    Nada
    nega
    completa
    existência
    alienada.

    AHH!

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