Monday 16 March 2009

DE VANU SINUOSU


De um curto momento efémero o desespero.
Despojei-me de vitalidade e orgulho e pureza
Alojo-me em bocados de recantos, de corpos,
De partes incorpóreas,
Em todos os teus poros distribuo-me,
Parto-me em pedaços,
Desfaço-me em partículas de pó,
Milhões microscópicos colados em acetatos.
Tactos tacteiam cactos espicaçando impressões d’alma.
Inexorável senão da masturbação do eterno cinismo.
Ó Ego terrível!

Sentei-me no lugar da mulher do olho de vidro,
Vi na bola de cristal a pouca terra de homem nenhum
Reflectida a carne que dela exala,
Perfurada por prata velha,
Fina,
Elástica, ornamentos que a infectam de prazer
E assustam a licantropia crapulosa,
De cabelos,
Linhas de cetim longas asas de corvo,
(Re)traída por tudo o que brilhante é.



(um segredo)
Lembro-me de um episódio familiar, mas que tem algo particular: crianças estranhas correm por ali, são feitas de pão e encostam-se aos passeios para absorverem vitalidade. Depois é o lado direito da minha cabeça que no interior é preenchida por caixas de plástico. Pulsa o sangue que arde, as derrete.

Valquíria

Xteriors XI, Desiree Dolron, 2008


Xteriors I, Desiree Dolron, 2008

5 comments:

  1. O cinismo da nossa alma às vezes é a nossa pior inimiga…Abraços :)

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  2. Agora que nada resta, o cristal vazio abrir-se-á à ressonância do preenchimento? A pureza existe deste que ela esteja num frasco de odores

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  3. exxxcelente, parece-me.

    crianças feitas de pão ensopado
    em sangue

    uma mulher com veias de agua
    ardente

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  4. Gothicum,

    Mas o melhor amigo dos "outros".

    ___


    DarkViolet,

    ¿Y a que huelle la pureza?

    ___


    0.04,

    A imensurável força [palavra que começou na fraqueza] da inocência.

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  5. The good old Fields
    of N...

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