Thursday 11 March 2010

RUÍNAS



Fotograma do filme Vargtimmen (AKA Hour of the Wolf), Ingmar Bergman, 1968


O que é esta ode programática?
Olho brilhantemente para o ofusco horizonte que me diz coisa alguma. O horizonte verde, cinzento de mar, esse mar absoluto que é ser, que é o muro gigante que me faz prisioneira. Olho. O sexo. A comida. Os livros intrínsecos. Cansada.
Apossa-se de mim uma vontade de vícios e de dores. O pó pastoso amargo, o fumo a escorrer-me da boca e o sangue dos braços às pontas dos dedos que brincam, rudimentares, nas pratas argoladas. Era a infelicidade que subtraía aquilo que não sou, e não mais poderei ser.

De repente, acordo, possuída de desdém por estranhos que me estranham e se atraem à minha carne. Coveiros nefastos! Doces de natal pegajosos. Chapelinhos repugnantes, nestes castelos ausentes.
Pairo na via pública e amo o meu reflexo no mar negro e nas casas nele plantadas, por ele engolidas. Casas náufragas da virtude, da estabilidade inorgânica. Vividas na ausência fria da chuva.


Valquíria

3 comments:

  1. Ele tem o mais penetrante dos olhares de prata

    http://www.youtube.com/watch?v=AW533vE_v78&feature=related

    ReplyDelete
  2. É o que dá, a ausência fria da chuva. ;)

    Belo texto.
    Beijinho.

    ReplyDelete
  3. http://img88.imageshack.us/img88/6533/haircopyii7.jpg

    ReplyDelete