Monday 27 October 2008

OS NOSSOS FINADOS



Caveira da Capela, Valquíria, 2008


Detesto escrever sobre ossos que encurtam a distância da morte. Três passos dão entre o nascimento da adoração e o frio flácido falecimento, onde na fálica ostentação em ruínas nos diminuímos, célere crescemos nas penumbras cálcicas e trémulas.
Onde uma criança e um pai, talvez, se adoram até na morte que os acompanha difícil e desesperadamente na eternidade que um dia acabou. Depois escrevemos compulsiva e freneticamente sobre os corpos secos de carne, aos quais, crentes, antepassados fanáticos rezaram, vegetativos, a ténue vida, com pena de esta findar, sobejando a doce inveja da imortalidade do terrível ícone que, em forma de objecto, dança estático no centro. Porque vincarmos o absurdo torna mais aceitável a realidade.

“Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos.”

Valquíria


Post previamente publicado n'O Bar do Ossian

2 comments:

  1. É um suicidio haver um rio que não fosse limado com sangue por todos os lados. uma imortalidade parcial

    P.S:Os ossos ocuparam os espaços vazios do palco...um blog que merece tal acto;)

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