Sunday 24 August 2008

O POEMA DO CADÁVER

Do covil observo a tua passagem
Caminhas sobre passos arrogantes,
Sublime leve aterragem.
A voz de tons agonizantes
Transporta das entranhas ar pútrido.
Cabelos e unhas intactos.
Nos olhos, vazios putrefactos.
Tantos anos a terra há-de ter comido!

Dentes grandes, brancos, aproximam-se
Sob luz negra que a lua cheia emana.
Garras afiadas entre meus cabelos.
No meu crânio cravam-se
Os dedos que estilhaçam os meus ossos de forma inumana.
O brilho do meu córtex, já visível,
Dá vida ao olhar vazio da criatura que vislumbro.
Entre os dentes, uma língua seca, horrível,
Beija o meu cérebro húmido que o brilho deslumbro.
De todo este erotismo, nasce uma fome imortal
Pela massa mole que de meu crânio é recheio!
Num ímpeto, começa o banquete devorativo, sem receio.
E do vazio silencioso nasce um gutural,
Mas é imperceptível a sua proveniência
Por ser agora apenas uma só criatura sem consciência!

Valquíria

1 comment:

  1. o caixão necessita de ter a madeira estalada para observar o requinte de tal beleza ou ter a coragem de infiltrar a sabedoria no desejo de rasgar...devaneios

    ReplyDelete